sexta-feira, 11 de março de 2011

Lanices

      Só de procurar o Word na lista de programas do computador pra começar a escrever, já tô sentindo vergonha. Gostaria muito de ter uma desculpa convincente pra apresentar a mim mesma e assim justificar o motivo de tanta demora entre um post e outro, mas não tenho. É lamentável! Eu gosto de escrever, estou com tempo disponível pra fazer isso, sempre penso em um monte de assuntos pra falar aqui, mas acabo não fazendo nada e os assuntos vão passando.
      Alguns dias me esqueço do blog, confesso. Coincidência ou não, justamente nestes dias eu recebo mensagens de pessoas inesperadas fazendo algum comentário legal sobre o meu blog. Nas últimas semanas, quem comentou foi uma amiga e dias depois um amigo. Não tinha contato com nenhum dos dois há muito tempo, e jamais imaginaria que eles passeassem por aqui. Fiquei super feliz, é mesmo uma coisa muito gostosa receber comentários sobre as coisas que eu escrevo. Mas daí só fico com mais vergonha pela demora! E eu não quero ninguém dando justificativas por mim, hein...
      Ontem a noite tive uma insônia das BRABAS. Resolvi não tomar toda a dosagem que eu deveria dos medicamentos que ando tomando porque fico muito grogue no dia seguinte, e deu no que deu. E além da insônia total, pra ajudar, eu tava mega agitada. Quando isso acontece, fico impossível. Não consigo parar quieta em lugar nenhum, mas o pior mesmo é a minha cabeça. Eu penso penso penso penso penso penso penso sem parar, e um moooooooooonte de coisas ao mesmo tempo. Ontem consegui me segurar na cama até umas 4 da manhã (o que foi MUITA coisa!). O-DEI-O  deixar o Henrique na cama sozinho. Mas ontem não agüentei. Levantei e vim pro sofá, acendi o abajurzinho vermelho e voltei a ler meu livro. Estou lendo “O Diário de Anne Frank” agora. Como é impossível eu pensar numa coisa só, enquanto lia comecei a pensar nessa história do blog, de eu demorar pra escrever, e pensei que isso é bem uma lanice. Não significa que outras pessoas não façam isso e eu seja a única, não. É até bom eu dizer isso, porque aproveito e defino o que é uma lanice.
      Lanices são pensamentos, atitudes, opiniões, gostos, comportamentos que em separado não tem nada de incomum e nem são anormais. Várias pessoas se identificam e também tem alguns deles. Mas eles passam a se tornar “lanices” quando fazem parte do todo que me define, que me faz ser como sou. E vou falar uma coisa: eu gosto de várias das minhas lanices! Melhor ainda, me divirto com várias delas, dou risada de mim mesma. Acho que isso é bom, não é? Me falaram que é. Mas não gosto de todas, não.
     O título desse blog é “Dona Lana e suas lanices...”. Os posts anteriores foram todos com cara de dona Lana, eu acho. Pois então hoje resolvi contar sobre algumas das minhas lanices. Na verdade foi de madrugada que eu tive essa idéia. Como eu NUNCA me lembro das boas idéias que tenho na madrugada, fui anotando no bloquinho de notas do meu celular algumas das lanices que me vieram à cabeça, só pra eu não esquecer. Outras, tenho certeza que vou colocar à medida que escrevo. E em posts futuros (sim, porque eu continuo acreditando que tomarei jeito algum dia) colocarei mais e mais lanices. Posso repetir algumas delas, mas isso é uma lanice, também.
      Pois bem, vamos às lanices!

      *   Sou extremamente desastrada e me atrapalho com coisas muito pequenas. Às vezes vou pegar uma bacia debaixo da pia e ela não tem nada em cima, mas eu consigo derrubar o que tá em baixo. Acho que dá pra imaginar o que acontece quando vou pegar uma panela que está bem no meio da pilha, com outras panelas embaixo e outras em cima... Todo mundo se assusta com o barulho, mas eu já tô acostumada. Mas não são só coisas barulhentas que caem da minha mão não, eu consigo me atrapalhar com um envelope, uma chave, uma blusa. Acho incrível.

*   Na maioria dos dias que o Henrique chega em casa, eu estou na cozinha adiantando a janta. Quando ele chega sou tomada por uma imensa alegria e euforia, o que diminui ainda mais a minha pouca coordenação e faz com que eu derrube e bata tudo que eu tinha conseguido não derrubar e bater até então. Ele nunca me disse isso, mas percebo no olhar dele que lá dentro ele se pergunta o que deve acontecer com a casa quando ele está fora...

           *    Dentro do tópico “desastres”, está também o fato de eu ter zero noção corporal e espacial. Isso significa que eu não tenho noção da dimensão do meu corpo, e essa falta de noção resulta em roxos quase que diários desde a perna até em partes mais difíceis de compreender, como por exemplo, meu ombro. Uma vez, tive a capacidade de bater com tudo meu tornozelo numa quina de parede. Fiquei pensando em quanta habilidade eu precisei pra enfiar justo esse ossinho (que no meu caso nem é muito saliente) na parede... Coisas como bater a cara no vidro ao olhar pela janela que eu mesma fechei, prender minha mão na porta do armário ao fechar e outras assim são corriqueiras, então nem contam. Outro dia fui sentar na cama com meu laptop, e a cama acabou. Óbvio que fui parar no chão e como o espaço da cama até a parede é pequeno, fiquei em formato de V. O Henrique morreu de rir ao ver só os meus pés pra cima. Já a minha falta absoluta de noção espacial faz com que eu não tenha capacidade de compreender quantidades como centímetros, metros, e por aí vai. Quando alguém me diz que algo tem 3 metros, não tenho noção alguma do tamanho disso. 3 centímetros até tenho, pque sei que é algo pequeno. Se entrar em metro quadrado então, só piora. Se me falarem que um quarto tem 2x2 ou 20x20 entendo que o de 20x20 é maior, mas continuo tendo zero noção do tamanho de um e outro. Deve ter gente se perguntando como que eu dirijo, né? Pois é, até eu tenho essa dúvida. Mas acontece alguma coisa quando eu dirijo, e por alguma razão eu tenho o mínimo de noção, sim. Não adoro fazer balizas, isso é fato, não só porque eu nunca sei o quão pouquinho mais eu posso ir, mas porque entra outra lanice aí, que é o fato de eu ser neurótica e querer ficar arrumando o carro até ele estar perfeitamente estacionado. Mas com exceção de uma vez só, logo que eu tinha tirado carta, nunca fiz coisas como arranhar o retrovisor e dar batidinhas no carro da frente ou de trás. Na verdade, nunca bati o carro. Isso me faz acreditar que não sou um caso perdido. De qualquer forma, confesso que fico preocupada em como serei quando tiver um filho, fato que obriga a gente a carregar 14 coisas ao mesmo tempo no colo, no ombro e nas costas, incluindo o bebê. Mas mais pra frente eu penso nisso.

      *   Nunca fui de ter apelidos, até porque meu nome não colabora. Quando eu era pequena, os meninos da escola e da igreja me chamavam de Lama. Eu corria atrás dos meninos da escola e batia em todos com a minha inesquecível (não só pra mim como pra vários deles) lancheira amarela dos Ursinhos Carinhosos. Eu devia ter guardado essa lancheira, acredito que ela tinha poderes sobrenaturais... Nos meninos da igreja eu batia quando possível. Quando não tinha jeito, achava que ignorar e parar de falar era uma boa medida. Evidente que nem sempre funcionava...
          Minha prima Má me chama de bicho de pé. Nunca entendi porque, mas eu deixo porque faz parte da nossa comunicação. Como forma de vingança, adotei pra ela o apelido de lagartixa.
          Durante vários anos da minha adolescência também fui chamada de draga. Acho que isso fazia algum sentido, embora eu não fique muito satisfeita ao admitir. Algumas ocasiões em especial, como as idas anuais ao esplêndido restaurante de frutos do mar da minha grande amiga Vanessa, quando eu podia comer camarão de verdade de graça, e o Natal, quando depois de esperar pelo ano todo eu finalmente podia (ainda posso) comer Chester, Tender, farofa da minha mãe e pêssego em calda até me entupir, ressaltavam mais os motivos que levaram meus amigos a me darem este apelido.      
          Desde o surgimento de “Procurando Nemo” sou chamada de Dory, também. Nunca apresentei qualquer tipo de resistência à esse apelido porque de fato ele faz muito sentido. Ganhei até uma Dory de pelúcia da minha amiga Thâmara, e gosto muito dela. No entanto, devo fazer uma observação: eu tenho memória de peixe, é fato, mas em algumas ocasiões eu tenho uma memória extreeeeeeeeemamente detalhada e precisa. Óbviamente que esse evento é imprevisível, senão eu usaria a meu favor! Mas não é nada previsível, e isso aliás até me irrita. Sinto que minha memória gosta de se juntar aos meus amigos na arte de tirar sarro de mim e por causa disso eu vivo me lembrando de certos assuntos com uma riqueza de detalhes completamente dispensável, enquanto me esqueço de outros muito mais importantes, como por exemplo, lembrar de uma combinação boa de roupa que me veio à cabeça em uma madrugada qualquer de insônia. Minha falta de memória me prejudica em várias situações: minhas amigas tem que contar as mesmas histórias de novo (nem sempre, ok, mas várias vezes)(e eu sempre JURO que nunca tinha ouvido a história), as coisas que me emprestam ficam guardadas comigo até eu receber ultimatos de devolução, às vezes me lembro de já ter assistido algum filme só quando os letreiros finais dele estão subindo na tela, já deixei roupas na máquina por 2 dias, e por aí vai...
          Por último, alguns amigos me chamam de Mandi-chorão, um peixe anti-social que solta chiados insuportáveis quando é preso, e tem 3 ferrões cobertos de substâncias tóxicas que causam muita dor em quem leva a ferroada. Francamente, ainda não consegui fazer a ponte entre esse último apelido e eu...

*   Falando em peixe, vou falar de bichos. Eu não sou uma pet-lover, não. Não tenho nada contra os bichos (exceto os cachorros, que eu não gosto mesmo), só não sou aquele tipo de pessoa que é fissurada em animal de estimação. Dizem que é porque eu nunca tive um, mas eu já tive, sim. Tive a Pompom, coelhinha grande, gorda e que comia todo o quintal da minha casa quando eu era pequena. Eu tinha medo da Pompom e tinha um comportamento bizarro que só meus irmãos sabem imitar quando ela aparecia na minha frente, mas eu gostava muito dela sim, e fiquei sentida por ela não poder se mudar pra Campinas junto com a nossa família. 
          Quando estava na faculdade, cursando a matéria sobre o Behaviorismo, cada um da minha classe teve que “adotar” um ratinho no laboratório pra aprendermos a condicionar o comportamento. Eu escolhi o Sig (de Sigmund), um ratinho albino e cego. Ninguém queria ele, só eu. Eu achava (e acho até hoje) que fui uma mãe adotiva muito dedicada e preocupada com as necessidades dele, mas um dia a professora me informou que ele havia falecido em função da obesidade. Tá certo que eu achava que ele merecia alguma espécie de compensação pelo fato de ser cego e ter portanto mais dificuldade de encontrar a comida que os outros, o que me fez colocar um pouco de comida em outros lugares da jaulinha dele que não apenas no recipiente destinado à isso, e que notei um pequeno ganho de peso nele. Mas nem acho que foi tanto assim a ponto dele se tornar obeso, não. Fiquei muito triste com o falecimento dele. 
          Alguns anos depois, quando eu trabalhava no departamento de Recursos Humanos corporativo da C&A, ganhei das minhas colegas de trabalho um peixinho. Elas diziam que quem trabalhava no RH de lá, precisava conseguir cuidar de um bicho. Algumas delas tinham um peixinho E uma planta na mesa, o que eu já considerava uma grande evolução, já que cuidar dos dois ao mesmo tempo não é nada fácil. Dei ao peixinho o nome de Frederico, e ele ficava olhando pra mim enquanto eu trabalhava. Como minha jornada era somente de 2ª a 6ª, o Frederico ficava sozinho no sábado e domingo. Isso significa que ninguém trocaria a água dele (eu fazia isso diariamente, e nem vou comentar aqui sobre as complicações de colocar um peixe num saco cheio de água e depois colocá-lo de volta no aquário sem que ele cometesse qualquer ação suicida), e principalmente, que ninguém o alimentaria nestes dias. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de preocupação com um ser cuja responsabilidade de cuidar está com ela pensaria numa estratégia para que o peixe não morresse de fome. Procurei por funcionários que trabalhassem no final de semana, mas não encontrei. Sendo assim, comprei um potinho especial, coloquei dentro do aquário, e toda 6ª feira eu abastecia o potinho pra garantir a comida do final de semana. Um dia, cheguei para trabalhar e com muita tristeza no coração, constatei que o Frederico havia chegado a óbito. Minhas colegas me disseram que eu colocava muita comida para ele mas eu não acredito que isso seja verdade, ele apenas precisava de comida para o final de semana! Acho que elas disseram isso só pra tentar colocar peso na minha consciência. Não adiantou, porque até hoje acredito que tanto o Sig quanto o Fred faleceram de causas desconhecidas. 
          Depois de tantos traumas, decidi não ter mais bicho algum. É triste, a gente se apega e acontece isso. Agora tenho plantas na minha sacada. Elas exigem um cuidado bem parecido com o dos animais. Freqüentemente me preocupo com a necessidade de água delas. Não deve ser fácil viver de água... Eu mesma já tentei e não consegui mais do que 1 dia, por isso acho que o mínimo que eu faço é deixá-las bem abastecidas. Estou orgulhosa de mim mesma, pois em 1 ano e 3 meses, apenas 3 plantas não resistiram.  Isso significa que estou no caminho certo, e acho que nasci pra cuidar de plantas, não de bichos. Recentemente o Henrique começou a se preocupar com a alimentação das minhas plantas e simultaneamente decidiu se engajar na campanha contra a dengue. Desde então, minhas plantas não tem mais bebedouro. A parte boa é que posso dar bastante água pra elas durante o dia, porque até ele chegar em casa o piso da sacada já secou e ele nem vê o quanto eu coloquei.

     Uau! Acabei de ver que estou na 5ª página no Word! Também já (ou só, não sei...) escrevi sobre 5 lanices! Ainda tenho uma lista muito grande, que como eu acho que já disse, anotei no bloco de notas do meu celular. Ok que esse espaço, antes de ser pros outros, é pra mim, porque eu gosto de escrever. Mas sei também que muita gente, por consideração ou gentileza, passa por aqui e se dá ao trabalho de ler esses textos imensos que eu escrevo. Desta forma, decidi não ser completamente arbitrária e dar a vocês a chance de dizer se é muito chato ler sobre as minhas lanices, se eu escrevo demais, se eu deveria postar uma lanice de cada vez, ou se eu deveria escrever sobre qualquer outro assunto, menos esse. Agradeço sinceramente pelas respostas, até porque estou começando a ter aquela sensação de estar falando sozinha, que nem quando a gente grava recado em secretária eletrônica.
     
    Beijo, tchau.

7 comentários:

  1. Mandi-Chorão pros íntimos até hoje! E o pé inchado agora eu sei que é seu lado desastrado..rs... saudade docê. Beijos

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  2. Eu gosto de ler, especialmente coisas interessantes e histórias, então acho bom que vc escreva bastante. Talvez isso esteja atrapalhando vc, pq quando escreve, escreve bastante e leva muito tempo, daí dá preguiça de voltar a escrever outra hora. Mas não tenho problema nenhum em ter posts de vez em quando. Vc é engraçada! Talvez seja uma lanice tb. Enfim, eu gostei. bjs

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  3. Oi Karen, adorei sua sugestão, super obrigada!! Como eu já tenho uma lista de lanices, eu podia ir escrevendo aos poucos e não ficaria tão cansativo... E tem algum assunto que vc (ou quem tiver lendo) gostaria que eu escrevesse a respeito?
    bjinhos!!!

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  4. oi meu Amor!
    Me diverti muito! Muito mesmo!
    São muitas Lanices pra um única Lana...rsrs
    Lanices são qualidades, características dessa mulher maravilhosa por quem me apaixono cada vez mais a cada dia!
    Parabéns pelo texto!
    Te amo

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  5. Oi, Lana. Te acompanho pelo twitter e sei que você está doentinha, com probleminhas para dormir. Seu médico lhe recomendou algum exercício físico? Acho que se você arranjasse um tempinho para fazer um, seria bom para sua recuperação e seu sono. Não tenho ideia do que você tem, mas praticar boxe me ajudou muito a ter menos neuras noturnas e dormir bem sem depender de remédios.
    Beijocas

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  6. Oi, Lana;

    Posso estar enganada, mas acho que te conheci na adolescência, através de intercâmbios da igreja de campinas e irajá(rj). E daquela época lembro de sua habilidade com o violino; seria isso uma lanice??? Me identifiquei bastante com o post! Abs

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  7. Oi Lana!
    Cheguei até aqui através do tuiter de outra pessoa. :)
    Super me identifiquei com seu blog e com esse post ótimo! Eu me vi descritinha ali depois da parte da Dory rs Eu tb sou meio avoada assim e às vezes estou conversando com alguém, minha cabeça vai lá do outro lado do mundo e, quando volta, a pessoa já tá falando há séculos e eu não sei do que ela tá falando! :(
    Mas acho que foi isso mesmo que me identifiquei... rs Gosto bastante de bichos, cuido bem deles, não cuido bem de plantas, não sou tão elétrica... rs
    Amei o post gigante, prefiro assim. Os meus tb são testamentos. :)
    Vou voltar mais vezes! :D
    Um beijo!

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